5 de dezembro de 2010

Do Que Não Se Diz



A vida encanta
Mensagens por dentro
Das mensagens
Ao alcance das melodias
Um sempre falar disperso
Repleto de entrelinhas
Capto no descompasso do coração
Um olhar que não se perde do meu
De mãos dadas
O passo é firme ao horizonte
Em momentos assim
Sobre o acolhimento do ser
Nada mais a dizer
Do peito mais perfeito
A paz para descansar
Escapa-se num suspiro
Na batida do coração
Um brinde ao maior amor
Eternamente tu
Hoje, sempre, amanhã

26 de novembro de 2010

Fractais



fragmentos que amanhecem
imersos na imaginação
ao alcance da mão
memória do teu corpo infinito
tatuado em meus segredos

© Clivânia Teixeira

9 de novembro de 2010

A intangível leveza da cumplicidade



Existem seres, coisas e momentos que se transformados em palavras empobrecem, sobretudo no que diz respeito ao que une duas pessoas.
São coisas simples como o ponto de encontro que se estabelece entre dois seres na contemplação de obras de arte, o simples olhar a lua, ouvir música, ler as mesmas obras ao abrigo de um espaço tempo diferentes.
A magia do longe quando estes seres estão materialmente afastados, proporciona uma sinergia de cumplicidade intocável e a compreensão de que para estar perto não precisa estar juntos.
São instantes que beiram a perfeição e leva a um êxtase de alma, são destas coisas indescritíveis que se tece o infinito significado do amor.

19 de agosto de 2010

Toda a Delicadeza




Na ausência do tempo do encontro fica registrado que eu precisava sempre encontrar você no meio do caminho, sem que isso fosse um encontro de horas marcadas, sem que precisássemos dizer a quanto tempo, e em outro momento dizer adeus, para alguns eu diria que nossa vidas foram feitas simplesmente para estar uma nos braços da outra sem que isso significasse mais que isso mesmo. E assim dedico músicas no tempo que já não nos pertence, por que fazer poesia do enorme prazer que é desfrutar desta mútua existência é fácil, basta fechar os olhos e perceber que respiro melhor. Nas nuvens que se dissipam ao amanhecer eu escrevo seu nome infinitamente.

© Clivânia Teixeira
19.08.10

18 de julho de 2010

Meu Refugio




a viagem do teu corpo no meu corpo
a tua boca na voz insinuante do teu beijo
a tua calma no rebuliço da minha alma
o enlace dos teus braços no meu abraço
teu sentir no meu gosto
da tua fala rolando na língua
aquecendo recantos de mim
teu toque latejante em minhas entranhas
teu cheiro em ondas no movimento do meu ter
a ti inteiro tatuado em meu ser
o encanto do dia morrendo
a noite se estrelando
outro dia afoito nascendo
e eu indo, indo, indo
cada vez mais longe de ti
deixando pelos caminhos
os rastros da saudade
de te pertencer

© Clivânia Teixeira
18.07.10

Evanescence - My Immortal - Legendas Português BR

6 de junho de 2010

A Vida Segue

Vi flores
Onde ontem eram botões
E nada havia
Novos botões desabrocharam
Um sol tímido a nascer entre as colinas
E adiante onde o longe era neblina
Vi algo diferente
Um que de horizonte
A limpar os caminhos

©Clivânia Teixeira
06.06.10

6 de abril de 2010

clássico e conveniente



um clássico é sempre um clássico
assim o é as coisas que permanecem
com o passar do tempo
e perenizam-se entre as coisas fundamentais que se aplicam
e sobrevivem graças a capacidade que adquirimos
de plasmar da mesmice a essência
do algo que indubitavelmente satisfaz a alma
mesmo quando não há um prazer do corpo
e assim são ditas saudades imateriais
existe o fenecer de sonhos
para que ocorram as transformações e o entendimento
das coisas que não podem ser
e clássica é a sabedoria
de quem sabe o que habita na alma do outro fenecido
a diluir-se com efeito no ser que se guarda
a expressar-se nos olhares que migram o horizonte
ou no espírito, sobretudo àqueles que querem fugir do corpo
quando percebem que entre as coisas
fundamentais aplicadas com o passar do tempo
coabita um tudo
e com o passar do tempo é vero
o mundo sempre dará as boas vindas aos amantes
pois é fato verdade invencível
que o corpo de alguma forma
trai outro corpo quando se torna amante da alma de outro
entretanto uma alma jamais trai outra alma
no tempo que mede até mesmo as coisas que não existiram
mas que inexplicavelmente são inesquecíveis
mesmo que jamais tenham sido objetos explícitos de traições
sabem das loucuras que as renúncias podem provocar

amante



na penumbra do quarto
na penumbra do outro
na penumbra de si
a nudez do silêncio
risca o traço inevitável
e premeditado
do despertar de uma paixão

© Clivânia Teixeira

3 de março de 2010

o tom da pele



nos olhares de te ver
em que espreito a noite
a ti recorro para sonhar
a cada olhar encontro o teu
em cada voz escuto a tua
e no eco do meu ser
tudo que me parece belo
se parece contigo
não há tempo nessa espera
eu já te disse
só sei te amar mais a cada dia
porque meu amor
tu não és para agora
e nem para amanhã
és para sempre
na pele da minha pele
nas noites brancas em que não durmo
está escrito jamais duvides
é sempre tu o meu o eterno amanhã

© Clivânia Teixeira

21 de fevereiro de 2010

amor e solidão

Um dia nos consideramos a obra mais perfeita da natureza, para num repente percebermos que há em nós uma incompletude tal que põe em cheque esta perfeição.Diante do amor não somos demasiadamente novos ou velhos, somos intrinsecamente a essência do que sentimos. Por isso devemos cuidar, pois que amar é o ato paradoxal de precisar visceralmente e ao mesmo tempo prescindir do outro acima de tudo, e isto é também abrir mão de um pouco do que somos. O ato de amar é por si algo que nos impõe ao reconhecimento de não sermos o bastante para nós mesmos, e ainda que sendo assim é nosso desejo bastarmos a quem amamos. Amar gera o desconforto de abrir mão do sermos plenos em nossa solidão, é perder um pouco da paz interior. Por amor nos pomos livres a caminhar tranqüilamente à margem de um desconhecido. É o amor que nos liberta para nossa própria desapropriação.

Fonte: Centopéia 12 - Exercício poético Luna & Amigos

© Clivânia Teixeira

viver a vida

O olhar é mágico quando insere no âmago da apreensão a simbiose entre o racional e o emocional. Há que se ter uma certa poesia para escrever a prosa da vida, há que se ter um traço mais reto para escrever com simplicidade o cotidiano. O olhar poético confere ao ato de perceber uma visão mais assertiva diante da vida e proporciona mais prazer ao agir. Há que se ter olhos de mundo para observar o simples. Há que se ter o olhar simples de criança diante da seriedade que impera no mundo. Este caminhar firme de mãos dadas com abstração é o atrito perfeito que nos leva a ir mais além. A flexibilidade, a acuidade infantil diante do banal, o desfrutar da mesmice como se tivesse diante de si a oitava maravilha do mundo. É este olhar espantado de quem tudo vê pela primeira vez, é o agir sempre com o prazer de recomeço. Olhar a vida como uma obra de arte e de cada vez perceber que a arte está na transformação e no renascimento.

Fonte: Centopéia 13

© Clivânia Teixeira

olhar que advinha

E assim a alma inteira explode na intensidade do olhar de quem ama. Colhe-se aí a voz do pensamento, o resultado ímpar da cumplicidade com o outro. Olhar apaixonadamente significa expressar a combustão dos sentimentos que aquece o íntimo dos seres. Porque o olhar resume em si a forma mais simples de dizer ao outro, o que muitas vezes transformar em palavras , empobrece.

Fonte: Centopeia 4

© Clivaria Teixeira

16 de fevereiro de 2010

Amizade Estelar

Muitas vezes tentei ir embora do lugar onde imaginei só nosso. De cada vez que arrumava a tal bagagem imaginária, esbarrava nas lembranças deste nós, que verdadeiramente jamais existiu.
Conhece a sensação de nada sermos quando estamos no escuro? Um mundo que silencia e se apaga, enquanto permanecemos ali imóveis, com uma mão ausente de tudo e outra repleta de nada.
A princípio não sabemos aonde ir e tudo o que pudermos pronunciar, seja uma prece ou o nome ausente, parece inútil, o som morre na garganta, escoando num abismo sem ouvido.
Dia houvesse em que nos esquecêssemos recostados ao amontoado das lembranças, poderíamos nos reencontrar nas páginas de um livro recheado de ausências, seria demasiado fácil reconhecer-nos.
Era como se a qualquer momento uma página virasse e uma janela se abrisse, dali poderia acenar enquanto refletia sobre o que lia.*
Os dedos de uma mão marcavam firme a folha, o olhar perscrutava a alma em busca desse algo distante e imponderável, um tudo que se assemelhava com a quase proximidade que desfrutamos um dia.
Neste amanhã, como ontem, como agora, pairamos num meio, num quase, e no infinito se estabelece a certeza de que será sempre assim, mas nada dói. Apenas nos tornamos mutuamente previsíveis e capazes de nos encantarmos na mesmice.
Já não existe a inquietude de antes, aprendi que em cada reencontro somos cada vez mais bem-vindos um ao outro. Uma amizade que por vezes se confunde com amor.
*
"Nós éramos amigos e nos tornamos estranhos um para o outro. Mas está bem que seja assim, e não vamos nos ocultar e obscurecer isto, como se fosse motivo de vergonha. Somos dois barcos que possuem, cada qual, seu objetivo e seu caminho; podemos nos cruzar e celebrar juntos uma festa, como já fizemos e os bons navios ficaram placidamente no mesmo porto e sob o mesmo sol, parecendo haver chegado o seu destino e ter um só destino. Mas então a toda poderosa força de nossa missão nos afastou novamente, em direção a mares e quadrantes diversos e talvez nunca mais nos vejamos de novo ou talvez nos vejamos, sim, mas sem nos reconhecermos: os diferentes mares e sóis nos modificaram! Que tenhamos de nos tornar estranhos um para o outro é lei acima de nós: justamente por isso devemos nos tornar também mais veneráveis um para o outro! Justamente por isso deve-se tornar mais sagrado o pensamento de nossa antiga amizade! Existe provavelmente uma enorme curva invisível, uma órbita estelar em que nossas tão diversas trilhas e metas estejam incluídas como pequenos trajetos elevemo-nos a esse pensamento! Mas nossa vida é muito breve e nossa vista muito fraca, para podermos ser mais que amigos no sentido dessa elevada possibilidade.- E assim vamos crer em nossa amizade estelar, ainda que tenhamos que ser inimigos na Terra.” (Nietzsche – A Gaia Ciência – Livro IV)

© Clivânia Teixeira

15 de fevereiro de 2010

do real para o imaginário concreto

Alguns escrevem sobre os momentos por um estado ébrio da mente, outros por uma tristeza que desencarna o corpo ao imponderável do ser, e entre tantos existem aqueles que são abduzidos da realidade simplesmente por que chove, estes são visceralmente na essência, a mais pura emoção.
Chove.
Poderia se dizer destes momentos, coisas absolutamente infantis, algo como “a chuva cai de pinguinhos”, mas vai-se ao subjetivo, a essência, simplesmente para acordar.
No ninho e subterfúgio da alma, desperta. Neste imaginar diáfano de coisas sensíveis é possível ouvir as gotas sorrateiras deslizando na vidraça, só de imaginar o vento lá fora sente o arrepio no murmúrio dos corpos quentes.
Neste corpo devassa a alma do corpo que é cativo, é o fim que se traduz em si mesmo, um simples recostar na encosta do peito eleito para amar entre as dobras de cobertas aconchegantes. O gesto é impessoal, mas definitivamente intransferível.
Poderia dizer um nome, mas prefere dizer que neste momento, escandalosamente feliz, é apenas uma mulher romântica apta a fazer poesia dos momentos em que a sensibilidade aflora e não pode dar cabo de si, poderia dizer que é uma inspiração latente, mas isso seria interpretado com um desejo inacabado. As conclusões banais acabam por ser o lugar comum dos medíocres.
Estes recantos abissais se revelados simplesmente se dissipariam, mais apropriado é o contorno do etéreo à possibilidade remota de qualquer frustração, aqui se pode decantar a fantasia, aqui esse tudo é naturalmente e essencialmente nosso, uma obra que se traduz em algo mais que prazer de corpos, é puro deleite da alma que perdura.
Sim, nem só de poesia vive o homem, a fome do pão no corpo não pode ser superior a capacidade de dominá-la, nas superações aprendemos a apreciar o intangível, isso proporciona um êxtase em que o sentir e o descrever não ocupam o mesmo sentido.
Ao final há o reconhecimento do absurdo que se demonstra na expressão destes momentos, mas fica o convite para jamais deixar esse inusitado ir de qualquer SER. Há quem diga que desta matéria todos são feitos. Ao fim e ao cabo nunca se deve deixar de expressar as coisas da alma, mesmo que a mesmice da vida conclua que essas ilações são ridículas.

© Clivânia Teixeira

a palavra à toa

"Palavras não existem
fora da nossa voz as
palavras não assistem
palavras somos nós"
(CRUZ, Gastão. "A doença". Os poemas. Lisboa: Assírio & Alvim, 2009)


um alarme toca na ponta dos dedos
rabisco sem pontos sem vírgulas
sem compromisso esbarro em mim mesmo
insulto com termos que mordem
como pode ter sentido o não sentido
se a palavra inexplicavelmente é um poema
no céu aberto de mim mesmo
aprecio este estardalhaço na calma
no espaço em mim que desconheço
a palavra anda descalça
entrelinhas que se cruzam
mensagem subjacente
do simples olhar que não se cruza
debruçada na janela da metamorfose
transforma-se

© Clivânia Teixeira

31 de janeiro de 2010

uma gaivota predileta

para johnjohn (in memorian)

foi-se o voo amigo
o acolher de almas
nos desertos que atravessava
foi-se a asa do recomeço
o fino trato do silêncio
o dizer das coisas simples
foi-se o ombro a esplanada
o filho da madrugada
que espantou a solidão
foi-se no passo confuso
partindo todo o sentido
num gesto involuntário
foi-se a tatear a eternidade
sem parar e mais alto
enquanto o vento soletra
o nome imponderável da saudade

© Clivânia Teixeira

23 de janeiro de 2010

elos

quando de um momento após o outro
os dias despedem-se e acolhem a noite
adensam-se em meu íntimo
os tão sublimes instantes
em que me afogo nas lembranças
e embriago-me de êxtases sonhados
pronunciadas dos lábios teus aos meus ouvidos
quando vem da penumbra
a sombra de teu olhar
e de um vento arquejante
murmúrios teus a me chamar
enlaço-me a ti assim
por elos inexplicáveis
mas que me unem também a certeza
de que nesta vida eu vim para te amar

© Clivânia Teixeira

namorar

tocar nas mãos e sentir na pele
a seiva que dilata as veias
sentir no rosto o sopro
do arfar de uma respiração
que pulsa ou alivia o intumescer de poros
vislumbrar entre olhares tímidos
o indizível das palavras
traduzir os rubores nos rumores
das sensações que transcendem as cores
vislumbrar o desnudar lento e paciente
das partes que lentamente nuas
revelam-se vulneráveis e inocentes
aos apelos ardentes da paixão
murmurar entre línguas e dentes
o fluir das sensações adormecidas
deslizar entre lábios úmidos
o entrelaçar de gemidos e beijos
nas bocas que saboreiam
o soletrar das sílabas da paixão
mergulhar no éter
e sentir a lua enternecida
guarnecida de noite a caminhar entre estrelas
perceber-se como se ela própria fosse
na cumplicidade dos mistérios
que somem no amanhecer dos dias
perceber-se o próprio dia despertar
sob os raios flamejantes do sol
um celebrar inconsumível de êxtase
do comungar dos seres, do sol e lua
indestrutível sintonia que paira no cosmo
tal qual um eclipse perene de nós

© Clivânia Teixeira

sensualidade

misterioso reino
anjo e demônio mutante
incêndio que acalma
desejo em movimento
doçura e delírio mágico
que se consome
em sacrifício da paixão

© Clivânia Teixeira

terminal

amor sublime amor
que sucumbe em poesia
e guarda em versos
as cinzas de um coração

© Clivânia Teixeira

último pedido

preenche-me de teu vazio
silencia até findar
minha voz em sussurro
cerra todas as entradas
para que nenhuma porta aberta
me aguarde de soslaio
altera todas as rotas
até que meus pés
esqueçam de seguir teus passos
veste todos os disfarces
até que me canse de desvendar-te
seguirei plena de ti
meu vazio encontrará o teu
pois que inútil é o apelo
de findares em mim

© Clivânia Teixeira

um olhar de estrelas

migra o olhar no céu
onde o escuro é veludo
e a imagem do sonho
funde-se ao brilho das estrelas
é lá onde a lua toda magia
lembra-me teu sorriso
é quando a noite é algo assim
meiga e forma perfeita
de olhar estrelas
e pressentir delas a contemplação
como se teu fosse
o olhar a aquecer-me
sim, penduro-me a elas
por que sonhar é bom

© Clivânia Teixeira

beija a flor

tênue é o vôo
que vem do íntimo
olhares que migram
flor em flor
como a tornar possível
o alvo migrante
de etérea beleza
reino de melancolia
que invade o momento
e esvai-se lentamente
rio latejante, insinuante
a fluir entre as veias
pensamentos raros
delirantes, sutis
um respirar a insultar rumores
é como se perde o olhar
no contemplar de anjos,
de sonhos ou poesia
na rapidez do vôo
busca do que jamais se viu
ato contínuo a sugar o néctar
como se cada flor
fosse o sentir saudades
do algo que sequer viveu

© Clivânia Teixeira

a ostra e a pérola

tanto que poderia dizer
desta sensação que sinto
é como se de ti
sempre fizesse parte
és a concha perfeita
manto madrepérola
abrigo de invasão e aconchego
é mesmo assim que sinto
quando me chamas pérola
neste espaço transatlântico
onde belo amanhece
o mesmo gesto belo
que anoitece em ti
amar até que do ato em si
nada mais reste em solidão ou dor
pois para que serve o amor
se não for esta a razão de ser
amar nesta razão intrínseca
como se tu fosses a ostra
e eu pérola entranhada de ti

© Clivânia Teixeira

repente poético

não sou poeta a fingir poesia
ou apenas versos que sabem a dor
sou metáfora e verdade nua
ante os olhos que sabem ler
sou subterfúgio e entrelinhas
sem rimas para espantar a dor
seja lá dor de saudade
seja lá dor de repente
por que sei que já faço tarde
estes versos que escrevo triste
noite afora uno as estrelas
e confusão de lua a cometer poesia
pois quem sabe da dor que conheço
conhece da dor que não sei fingir

© Clivânia Teixeira

horizonte do olhar

o horizonte do olhar

eis o olhar
norte do caminho
que ousas seguir
seiva de entrelinhas
que desliza entre sorrisos
e palavras reticentes
tonalidade rubra
enfeite das interrogações
que pairam no ar
a exclamar suspiros


© Clivânia Teixeira

amores platônicos e nem tanto assim

tudo em nós se sobrepõe ao tempo
somos irremediáveis como o existir
é na intensidade do que sentimos
que permanecemos abstraídos dos porquês
somos unos e intrínsecamente ligados
nem a presença pode nos tornar mais próximos
o sentimento per(segue)-nos independente
e sendo assim resta-nos fundir as letras
no gesto mágico de transformar a saudade
compomos o poema do alento
um sentir melancólico que invade o silêncio
olhares taciturnos contemplam o mar de janela nenhuma
mãos crispadas delatam
toda a impotência de um suspiro
conjugamos assim a sintonia
dos seres que amam com a cumplicidade de saber
que naquele instante
as vontades aqui e alhures coincidem
e tudo supera o racional que prepondera
ou deveria

© Clivânia Teixeira

escrever saudades

como transformar
esta ausência
em algo mais
que um simples poesia
como escrever o poema
desta saudade
Que me escapa entre os dedos
silêncios e um pequeno
suspiro que foge do peito
em rima solta

© Clivânia Teixeira

seres amorfos

almas frias onde a tristeza
é por vezes a cadência que
marca os passos
indiferença tosca
que se julga sábia
embalada pelo silêncio notívago
seres frágeis
que se resguardam entre sons monossilábicas
e decisões unilaterais
ícones glaciais do egoísmo
estrelas natimortas que não amam
e quando assim é julgam-se doentes
seres que não incendeiam emoções
apenas morrem imperceptíveis e lentamente
como os sonhos que trituram no íntimo das entranhas

© Clivânia Teixeira

a paz da noite

fogem-me do papel as palavras
voam as intenções mudas
navego para o recanto
onde a paz é notívaga
pouso-me suspensa
no sonho de penumbra
entre seres inanimados
e olhares alados sorrio
deslizo suave entre os abraços
das mãos que me percebem inteira
e adormeço na intimidade dos gestos
que acalentam o corpo da alma
nas noites que deveriam
ser para dormir e não são

© Clivânia Teixeira

interregno

a tarde põe-se púrpura
anoitecendo o dia
na penumbra o eco da voz
acende no horizonte íntimo
a centelha que ilumina o sorriso
silêncios e segredos trançados
ss tristezas outonam
e ferve em primavera a alma
na calma da noite
uma flor veste-se de amarelo
para o sol amanhã

© Clivânia Teixeira

namorados

os lábios tremem
O coração aquece
o olhar desfalece
a boca sucumbe ao beijo
e a palavra é inteira
entre corpos
dizendo eu te amo

© Clivânia Teixeira

cárcere invisível

olhares atentos
aos gestos atônitos
dedos que estampam
a poesia do medo
um silêncio imposto
a interrogações nuas
entendimento obtuso
atitudes omissas
a vontade primordial
de ir e renascer livre
até de mim mesmo

© Clivânia Teixeira

medo

por vezes sinto medo
é quando os dias rolam
noites escuras em gestos líquidos
gotas de orvalho que acalentam a alma
em silêncio o momento acalma
os olhos encerram o olhar
e dormem para acordar os sonhos

© Clivânia Teixeira

tempo

é uma incansável medida
de usura e desgaste
até do que não existiu

© Clivânia Teixeira

a descoberta

não questione a trajetória
de seus passos errantes
os rastros no caminho
vincam a rota da volta
norte do seu futuro
lá estarei infinitamente
por que o sempre é algo assim
um compromisso sem amarras
com a eternidade

© Clivânia Teixeira

desdobramento

busco-te entre os sussurros da noite
que partem das horas
em que navego estrelas
no silêncio da madrugada
imponho-me nos passos etéreos
que não medem distâncias ou tempos
sonhos emergem oceânicos
guio-me por entre teus gestos
que me tocam com palavras
e me dizem do que as mãos
já não ousam falar

© Clivânia Teixeira

a flor do sonho

e vens suave no aroma
da flor que giro entre os dedos
mergulho neste abismo
que te funde em minha alma
flutuo na leveza do sonho
e desperto com a ternura do suspiro
deixando a magia
em rastros de pétalas

© Clivânia Teixeira

tu

para ti este tudo
que nutro em silêncio
a palavra maior
do sorriso em minha alma
o fogo da ausência
que me incendeia a vida
o prazer colhido
no espanto do momento
pois é no instante que te sonho
que toda a vida me é
é possível

© Clivânia Teixeira

sem ti

as emoções não afloram
os sentidos permanecem afônicos
os dedos mudos e despidos de gestos
palavras não ditas
ecoam no abismo da alma
no horizonte dos olhos
um vulto se forma efêmero
no sonho que plasma
a iminência do toque
o corpo desfaz-se no éter
sombras, sussurros, teu nome
suspenso em dígitos lacônicos
tua pele na carícia das mãos
e tua ausência rodeada
de abraços e saudades
nesta noite infindável
que te procuro

© Clivânia Teixeira

ele em tudo

e vem como um sonho
envolto de silêncio e mistério
destilando seiva essencial
nutre meu corpo e alma
e permanece do ébano ao azul
e espreita-me no brilho da lua
quando rasga o olhar da noite
voa no profundo do sono
ilumina a aurora de um sorriso
é quando os pássaros espalham alegria
por entre o espanto e o verde
o orvalho desliza carícias
é este o sonho que consumo
é assim que morre o tempo
ou a saudade já nem sei
mas sei que por ele em tudo
eu também vivo

© Clivânia Teixeira

por de sol

é quando cai no corpo
da tarde o cansaço
é quando no olhar da noite
paira a lágrima de saudade
as palavras amontoam
coágulos de silêncio
respostas que tardam
interrogações em aberto
e tudo é paz nesta solidão
mas é no sigilo dos corpos
que as dúvidas permanecem

© Clivânia Teixeira

etéreo

vaga é toda a existência
entre a terra e o azul
volitamos em mistérios e buscas
o que somos nos aprisiona
o que não somos
nos lança ao infinito
de uma vã filosofia

© Clivânia Teixeira

sinfonia do amahecer

imaginar-te de sonho em sonho
num desalinhar lento que descortina a vida
e sentir o pelo ascender ao desejo
o eriçar o sucumbir dos teus gestos em meu corpo
no deslizar suave das mãos
destilando em chamas
a ardência que afugenta a palidez da pele
tingir em rubor e intensidade uma paixão
inserir entre olhares e penumbra
um sorriso adocicado que antecipa
o êxtase do gozo premeditado
o cerrar dos olhos nossos vultos
tatuados em sombras na parede
um gemido a fugir dos lábios
e dar lugar ao beijo teu sabor
um momento inequívoco
de pertencer-te parte a parte
minhas entranhas a apalparem-te
e receber-te pulsante pleno de mim
o meu olhar ao te sentir louco e alucinado
invadindo a calma do sorriso
e um furor num deleite atentado
premeditado e impossível
pereniza o momento em eternidade
de em teu corpo infinitas vezes
sonhar e fazer-te poesia
dedilhando poro a poro os versos
que rimam com nosso desejo
mistérios que desfolhados no destilar do tempo
executam pele a pele esplêndida sinfonia
numa harmonia que celebra
em toques celestiais e delicados
o paradoxo do clímax consagrado
da sorte e presente de existirmos
mutuamente impossíveis e enlaçados em fantasia
onde um suave e lenitivo amanhecer
revela-se por entre o balançar da cortina
quando a manhã nos brinda em leve brisa
uma caricia meu corpo unido ao teu
é quando olhas o final das palavras
e percebes que já sou eu a fazer parte de ti
e é assim que perecemos os dias
unidos e em silêncio

© Clivânia Teixeira

O dom da renovação

mãos inquietas esculpem saudades
o pensamento é um rio a correr
lentamente como um sonho
mergulha o oceano de mistérios
num suspiro se alivia
o abismo do ser interior
e tudo se traduz na certeza
que é neste encontro
a essência de toda a paz
solitários ou não
toda ausência nos acompanha
célula a célula envelhecemos
tudo o que temos são quimeras
resta-nos um olhar mais ameno
às perguntas sem respostas
o não esquecer e o perdoar
quando o verbo é reciclar
e nesta confusão crescemos
sem mais escalar as razões
voamos ávidos de amanhecer
e antes que tudo escape
escrevemos mais um poema

© Clivânia Teixeira

um poema a mais

são os momentos
ditos na poesia do silêncio
dos sentidos que tocam
o corpo dos dias
e descortinam emoções
que se atropelam nos dedos
e na retina do pensamento
o sopro de um suspiro
desoprime o peito
que na liberdade
de se dar ao instante
perde a lucidez
porque o sentir é algo estranho
que só compreende a poesia

© Clivânia Teixeira

17 de janeiro de 2010

amar, a quintessência da alma

respirar a essência do sentir
e falar das sensações
do enlace que não sabe o toque das mãos
neste momento em que guardo das palavras
os segredos do indizível
de que jeito dizer no verso
sobre o aconchego do ninho
sem a força do abraço
ainda assim vens
com o requinte do imponderável
como um botão que desabrocha
dissonante da flor que o acompanha
é tanto o encanto que sorrio
Apequeno-me na glória de te pertencer
e assim ínfima recosto-me
neste peito que sabe
as coisas bonitas do imaginário
és perene e me permaneces
e destes absurdos que só os poetas dizem
digo-te és para sempre
nesta quintessência de infinitos
eu te perduro numa forma universal
onde o corpo é o intangível
afinal é na alma que te tenho
assim como o som da criação
riscas-me em traço célere
na unidade da emoção
o apelo que aquece as formas do íntimo
é este calor que me molda
é neste ser que arde em essência
que me transformas
fazes-me sentir viva e feliz
pois és todo o céu
que preciso haver em mim
é na paz do firmamento
é unindo as estrelas
que ainda soletro o teu nome

© Clivânia Teixeira

um grito na noite

invade-me e eu te advinho
dize-me dos momentos insones
envolve-te na redescoberta
rompe o silêncio da noite
volta atrás nos passos
que se perderam de mim
mistura-te entre gestos
palavras e emoções
e desnuda esta alma
deste corpo razão
que te amortalha em vida

© Clivânia Teixeira

a flor do sonho

e vens suave no aroma
da flor que giro entre os dedos
mergulho neste abismo
que te funde em minha alma
flutuo na leveza do sonho
e desperto com a ternura do suspiro
deixando a magia
em rastros de pétalas

© Clivânia Teixeira

ser poeta

fazer poesias
fingir dor ou alegria
como quem morde metáforas
e declinar verso a verso
o êxtase das palavras
fazer poesias
como quem dubla a vida
no seu momento mais fantasia
levitar dos sonhos em poemas
e embalar a vida em rimas
fazer poesias

© Clivânia Teixeira

enquanto isso ou aquilo

vôo de quando em vez
longe e perto
aqui e alhures até que as asas
esgotem o desejo de liberdade
olho para além
sinto tudo e todos
escrevo poesia que justifique os dias
ou a irremediável existência
é quando os pormenores me invadem a alma
confundem os sentidos para o torto
certo errado talvez quem sabe
ando pausadamente até que me cansem os pés
do pensamento tiro as asas do bolso
fujo por cima das mãos que escrevo
em gestos de ousadia
e espalho magia ou sorrisos
em redor do abraço

© Clivânia Teixeira
* participação Daniel Veiga

rodin

e ousas moldar minha existência
este corpo de emoções
no infinitivo da forma
tortura triangular
de entranhas barro e bronze
que imortalizas por tuas mãos
numa imagem que dói no olhar

© Clivânia Teixeira

versos notivagos

um rabisco explode
dos dedos
tremores e poesia
embotam os sentidos
no ébano da noite
uma ausência é sentida
um grito agoniza
a saudade inaudível
a solidão dos dígitos
é o eco da voz
do som arrependido
pronunciado no abismo de mim

© Clivânia Teixeira

marasmo

neste espaço hora
que não me cabe
anseio por emoções
que ausentem o vazio
deste sentir cinza
que embebe os sentidos
e que transformo em versos
para embalar o momento
de silêncio e solidão

© Clivânia Teixeira

a saudade

é ato sem cerimônia
que invade os sentidos
por algo que não pode ser

© Clivânia Teixeira

a noite

é uma mulher
que se desnuda
da luz do dia
o vestir-se de mistérios
um romper do caos interior
que se interpõe na penumbra
um olhar sinistro
para lugar nenhum dentro de si
um curvar-se notívago
que tropeça em fantasias
buscas e solidão

© Clivânia Teixeira

sinergia

os pares aglutinam-se
em soma ascendente
de resultado ímpar

© Clivânia Teixeira

busco-te

e vens de repente
como um cio
que se instala permanente

© Clivânia Teixeira

versos de sabá

na terra que me abriga os pés
jorra a poesia líquida
nas veias do existir
neste reino que não habitas
componho o ato
que antecede a unificação
escrevo os versos
que beiram o sonho
onde ânsia e desespero
não atormentam a espera
por que és da pergunta
a resposta do inesperado
és o por vir
que me pertence
és do olhar da alma
a visão divinal
és o mantra existencial
do meu eterno amanhã
és o essencial do sonho
que me sopra enquanto durmo
a memória dos segredos
que me unem a ti

© Clivânia Teixeira

de fantasias e de cinzas

antes que soasse o primeiro grito
de uma folia interior
quis eu fantasiar-me de noite
iluminada de estrelas a tua espera
quisera eu despir a noite de paixão
luxúria ou raio de luar
desfilar nos movimentos insinuantes
das sereias odaliscas
olhares negros amendoados
ondular em ventres tremidos
de pura hesitação sob confetes
serpentinas nos recantos jardineiras
de flores colombinas
a delirar de saudades
do pierrô apaixonado
e antes que o último grito agonizasse
e olhares perplexos, atônitos
contemplassem as fantasias pretendidas
adormeci envolta de noite e saudades
a quarta amanheceu cinza
e o sonho vestido de sol
despertou em mim

© Clivânia Teixeira

o ar que respiro

permaneço no alto
envolvida por emoções
que me tornam inalcançável
há um hiato ponte ou abismo
que separa meu olhar do teu
é que nada mais sei sobre a dúvida
que persiste no dissimulado
onde as palavras já nada dizem
sigo preenchida deste vazio
na paisagem onde imagino
o sonho de te encontrar
respiro a vida insatisfeita
com este ar rarefeito de ti

© Clivânia Teixeira

miragens do sentir

tuas mãos fartam-se
do vazio do meu corpo
quando desenham solitárias
imagens do imaginário
argila do sentir
possível da memória
num ato consentido
de modelar a espera
em doce suportação

© Clivânia Teixeira

folhas secas

andar sobre as folhas
que sucumbem outonais
no andar lento
compartilhar a solidão
dos passos ermos
comungar com os seres
emoções em cores esmaecidas
escutar da memória os segredos
que farfalham agrestes
e assombram o esquecimento

© Clivânia Teixeira

as entrelinhas do silêncio

as palavras não pronunciadas
pairam em letras soltas
a aglutinarem-se cuidadosas
em sílabas harmônicas
que predestinam aos ouvidos
ensaios sussurrados
de apelos mudos enclausurados
nos lábios do silêncio
as verdades despem-se
por mãos envoltas no cetim macio
de perguntas dissimuladas
desprovidas de vãs interrogações
pondera-se o clamor dos sentidos
e lentamente a paz se instala
o ar retorna a respiração
o bater ritmado ao peito
as certezas desabrocham
tal qual flores a acreditarem-se
alvoradas nas manhãs
tatua-se no semblante a serenidade

© Clivânia Teixeira

a voz e o silêncio

quando tua voz acaricia meu silêncio
sinto o frescor que ascende saudades
um temor que receia o adeus
perscruto nas palavras a lentidão
que retarda os gestos de aproximação
é quando mesmo não querendo
preenchemos a distância com abismos
na intimidade que nos une de vazios
mergulho no que sentimos
e penso sobre o absurdo
de aceitar esta ausência perene de ti


© Clivânia Teixeira

16 de janeiro de 2010

sobre silêncios

O que se cala no silêncio escapa-se aos ouvidos especiais que só almas atentas possuem
E o estar atento sobrepõe-se a morte das palavras...E mesmo que destino ou não , muda-se!

© Clivânia Teixeira

o lado escuro do silêncio

pensamentos arredios
transeuntes da mente
notas obscuras do ontem
atemorizam-me os momentos
amanhã de incertezas
quando em silêncio escuto
passos que caminham da memória
a despeito do ontem
do talvez amanhã
sigo os passos de outrora
o passado é a ilusão que desacredito
o medo que apavora
o pânico que atrai
o inesquecível é a verdade
é ilusão que trai
miragem que desvanece
amarelada por um tempo
chamado espera e dor

© Clivânia Teixeira

latitudes de silêncio

onde o mar é liso
e de profunda calmaria
unem-se em silêncio
duas margens
onde o vento não sopra
para longe o esquecimento
sublima-se em movimentos
barcos a deriva
de insólito encontro
onde o mar abriu-se
naufragou-se o encanto
não há por agora
uma ilha a aportar
para trás rastros de espuma
milhas e milhas de "nós"
onde no céu gaivotas cinzas
planam no ar em vôo cansado
espargem no éter
solidão e melancolia
onde um que de saudade
envolve-se de maresia
e fixam-se no mastro
as velas frágeis do desengano
acenam ao céu
sinais de uma aliança divina
plasma-se um arco íris

© Clivânia Teixeira

em silêncio

pousas nos meus lábios
os teus dedos nus de mim
um olhar úmido de ti
põe-se a chorar

© Clivânia Teixeira

silêncio, saudade e solidão

saudade é um sentir irracional que prevalece
é uma voz que não cala a presença
é o eco do som que perdura no abismo da ausência
é este estado amorfo da alma
que nos empareda entre o silêncio e a solidão

© Clivânia Teixeira

a razão de teu silêncio

é simples
queres que o significado das palavras
perca-se na poeira do tempo
assim nada há que retorquir
nada há mais a dizer
é assim que me pesa nos ombros
o desertar neste ocaso
miasmas de tuas reflexões silenciosas
solitárias e ao final egoístas
e me fazes prisioneira
nesta ficção de ontem
questionável de existência
e vôo em asas de interrogação
legítima ilusão no ar
banida ao infinito
de um passado que sempre tem razão

© Clivânia Teixeira

de nossos silêncios

há no íntimo de meus gestos
a vontade do indizível
há no olhar ausente a tristeza
descanso na sombra do silêncio
é como fonte esta saudade
que despimos na ponta dos dedos
murmúrio do som mais alto
um grito quase desespero
é quando sei destes anseios
que não dizemos do que sabemos
dos retornos que não escrevemos
sussurros aos ouvidos distantes
sem dizer dos desalentos
dos momentos que se calam
das lágrimas que não caem
na exortação deste clamor
deste tudo ou quase
que não é dito

© Clivânia Teixeira