15 de fevereiro de 2010

do real para o imaginário concreto

Alguns escrevem sobre os momentos por um estado ébrio da mente, outros por uma tristeza que desencarna o corpo ao imponderável do ser, e entre tantos existem aqueles que são abduzidos da realidade simplesmente por que chove, estes são visceralmente na essência, a mais pura emoção.
Chove.
Poderia se dizer destes momentos, coisas absolutamente infantis, algo como “a chuva cai de pinguinhos”, mas vai-se ao subjetivo, a essência, simplesmente para acordar.
No ninho e subterfúgio da alma, desperta. Neste imaginar diáfano de coisas sensíveis é possível ouvir as gotas sorrateiras deslizando na vidraça, só de imaginar o vento lá fora sente o arrepio no murmúrio dos corpos quentes.
Neste corpo devassa a alma do corpo que é cativo, é o fim que se traduz em si mesmo, um simples recostar na encosta do peito eleito para amar entre as dobras de cobertas aconchegantes. O gesto é impessoal, mas definitivamente intransferível.
Poderia dizer um nome, mas prefere dizer que neste momento, escandalosamente feliz, é apenas uma mulher romântica apta a fazer poesia dos momentos em que a sensibilidade aflora e não pode dar cabo de si, poderia dizer que é uma inspiração latente, mas isso seria interpretado com um desejo inacabado. As conclusões banais acabam por ser o lugar comum dos medíocres.
Estes recantos abissais se revelados simplesmente se dissipariam, mais apropriado é o contorno do etéreo à possibilidade remota de qualquer frustração, aqui se pode decantar a fantasia, aqui esse tudo é naturalmente e essencialmente nosso, uma obra que se traduz em algo mais que prazer de corpos, é puro deleite da alma que perdura.
Sim, nem só de poesia vive o homem, a fome do pão no corpo não pode ser superior a capacidade de dominá-la, nas superações aprendemos a apreciar o intangível, isso proporciona um êxtase em que o sentir e o descrever não ocupam o mesmo sentido.
Ao final há o reconhecimento do absurdo que se demonstra na expressão destes momentos, mas fica o convite para jamais deixar esse inusitado ir de qualquer SER. Há quem diga que desta matéria todos são feitos. Ao fim e ao cabo nunca se deve deixar de expressar as coisas da alma, mesmo que a mesmice da vida conclua que essas ilações são ridículas.

© Clivânia Teixeira

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